Dolores
- Emanuelle Oliveira
- 13 de mai.
- 2 min de leitura

Domingo, 08 de maio de 2016
Esse é o marco fatídico de quando a minha vida começou a virar do avesso. Um domingo cinza, dia das mães, pós dias de extremo cansaço e um sentimento terrível de que a vida estava uma bosta.
Estava em uma fase onde tudo me irritava. A vida parecia não ter sentido. E todos os meus esforços pareciam poucos e ineficientes. Queria encerrar vários ciclos, mas não tinha coragem.
Nesse 8 de maio, enquanto descia as escadas de casa, um aperto inesperado no peito me dizia intuitivamente que algo estava por vir.
Ao entrar em casa me deparei com minha mãe deitada, abatida. Os relatos eram de uma noite caótica, onde ela não conseguiu nem me ligar.
Lembro de sentir medo.
Lembro dela tratar os sintomas como sempre fez: É apenas um mal estar, vai passar.
Não passou. O mal estar era a ponta de um iceberg muito maior, e dali em diante minha vida se transformou.
Por dias, até mesmo meses, eu me perguntava porquê estava vivendo tudo aquilo. E apesar de estar cercada de boas pessoas que me acolheram, me sentia absolutamente sozinha, incompreendida e perdida.
Em meio a dor me tornei um kamikase. Desfiz relacionamento. Afastei de amizades. Me isolei. Quis sumir. Abracei uma rotina extenuante. Me matriculei na academia. Exerci minha disciplina. Mudei de emprego. Instalei o tinder. Desativei as visualizações do whatsapp. Fiz novas amizades. Negligenciei a casa. Mudei o cabelo. Aprendi sobre diversos temas da vida adulta que não dominava. Tive porres e mais porres. Chorei. Aprendi a impor limites. Precisei aceitar ajuda. Desejei a velha vida que antes me incomodava.
E é aqui que quero chegar.
Essa semana conversando com alguém que gosto muito, falávamos sobre perda e sobre o quanto o que falta por vezes faz com que esqueçamos de agradecer e valorizar o que temos agora.
Pois as vezes em fração de segundos, por algo “pequeno” tudo pode mudar.
Quase 10 anos depois do fatídico dia 8, me peguei bournautando e com um sentimento gigantesco de incapacidade perante a vida que precisei aprender a reconstruir. Me peguei deslegitimando todas as conquistas e aprendizados construídos até aqui. E um gigantesco click me veio:
Se eu perdesse amanhã, a vida que tenho hoje quanto tempo seria necessário para em meio a prece e choro desejar poder viver essa vida de novo?
E sim, ciclos se encerem é o processo natural da vida. Porém, não é normal deixarmos de celebrar no agora o que temos de positivo, as coisas que realmente importam.
Que essa semana possamos celebrar o que há de bom em nossas vidas.
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