Pau na mesa
- Emanuelle Oliveira
- 9 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

Cresci me envolvendo com temas ditos do universo masculino, como carros, futebol, política... Muito em função do status social que eles representavam.
Vindo de onde eu venho, ter acesso significa muito mais que puramente poder e visibilidade.
Acessar algo era tão intangível, que não me permitia sonhar muito longe... queria apenas um Peugeot 207, e a sensação de liberdade para ir e vir.
Nos tempos de faculdade, a falta do acesso se tornou horas de ônibus para cumprir as agendas diárias. Porém, nesse mesmo contexto, fui apresentada a outras mulheres que assim como eu viam o carro como poder, como forma de tomarem as rédeas da própria vida. Mulheres fortes, cada uma a sua maneira, que admiro até hoje. E que nutriam silenciosamente o meu sonho de independência.
Diferente de boa parcela das minhas amigas, além do desejo, fui agraciada por uma série de acontecimentos que me possibilitaram ir em busca da tão sonhada habilitação. E logo nas primeiras aulas na auto escola, desejei que alguém tivesse me ensinado a tomar esse controle antes.
A habilitação na minha vida veio aos vinte e tantos, em meio a um período turbulento, repleto de incertezas. E todo esse medo de tomar as rédeas me afetava. Afetava tanto, que precisei de algumas tentativas, em anos diferentes, para passar no exame. Precisei ser um pouco mais resiliente, fazer reservas, abrir mão de algumas coisas para ter energia de realizar a primeira parte do sonho de assumir um volante.
O dia que passei no exame foi um misto de alegria, sonho realizado e a troca formal do documento de identidade.
Desde então, a nova meta é exercer o meu poder ao volante diariamente.
Ok, bela história minha cara escritora. Mas, e o pau na mesa?
Comecei essa história pensando em como a minha geração tem perdido o brilho nos olhos por habilidades como dirigir, abdicando desse poder.
O custo de vida é uma razão possível sim, mas não a única.
Temos ai um que de medo. Medo de se expor ao risco, de assumir os ônus de algumas situações, e fingimos que não ter as coisas da cartilha básica do adulto anos 2000, vai nos salvar.
Me sinto tão frustrada ao perceber que cada vez mais garotas querem ser apenas conduzidas ao invés de assumir o poder. E por outro lado, muitos caras também preferem terceirizar, e deixam que alguém apenas conduza por eles. Aceitando que nem precisam se habilitar.
E esse não é um texto sobre tirar carteira.
A expressão botar o pau na mesa sempre me remeteu a se impor, dizer a que veio. E apesar do seu pretensioso e colonial contexto, te provoco a entendê-la como um convite para não se esconder nas situações que necessitam de posicionamento. A não abdicar de si mesmo e do seu desejo por liberdade.
Me diz aí... Qual o desejo da cartilha de adulto você tem dito que não quer viver por medo de não ser capaz de conduzir?
Triplex instalado com sucesso?!
Beijos e até segunda.



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